
A virada para o século XXI trouxe muitas discussões e ações relacionadas com a utilização de tecnologias e o formato digital em instituições de cultura, arte, memória e afins. No Brasil, as iniciativas de preservação e gestão de acervos culturais em formato digital começaram a ganhar maior destaque, em meados de 2010, e desde então foram construídas ações que visavam a elaboração de políticas públicas para acervos culturais em rede e a digitalização desses bens culturais. Assim, muitos espaços de memória e cultura como arquivos, bibliotecas e museus iniciaram o processo de digitalização de seus acervos, tanto de objetos tridimensionais quanto de bidimensionais, que tinham por objetivo serem criados em formato digital e armazenados em rede para sua disseminação.
A partir disso, ressalta-se o número expressivo de dados gerados para serem tratados, organizados e disseminados em plataformas digitais e bases de dados. Tal realidade vem aumentando exponencialmente. No entanto, na contramão a esta iniciativa identificou-se que a realidade do campo museológico não acompanhou esse desenvolvimento, e com isso verifica-se uma formação de profissionais museólogos que não possuem domínio das atuais ferramentas tecnológicas digitais e da produção e análise de dados, o que tem gerado um problema para o acompanhamento destes profissionais na crescente e atual produção de dados.
Ciência de Dados Aplicada à Museologia:
Inovação na Gestão e Análise de Acervos
Nesse ensejo, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) juntamente com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) busca desenvolver em parceria o fortalecimento da formação desses profissionais por meio da produção, execução e avaliação de um curso de Ciência de Dados para Museólogos.
As técnicas de ciência de dados têm o potencial de desempenhar um papel significativo no campo da Museologia, auxiliando no processo de organização, tratamento e análise dos dados produzidos no âmbito da cultura digital. Aqui estão algumas maneiras pelas quais as técnicas de ciência de dados podem ser aplicadas nesse contexto:
Os museus frequentemente possuem grandes volumes de conteúdo digital, como imagens, vídeos, áudios e documentos. A ciência de dados pode ser utilizada para criar sistemas de organização eficientes, utilizando algoritmos de classificação e indexação automática para facilitar a recuperação de informações e o acesso a esses acervos.
Os museus coletam cada vez mais dados sobre seus visitantes, seja por meio de registros de ingressos, interações em mídias sociais ou pesquisas de satisfação. A ciência de dados pode ser empregada para analisar esses dados e extrair insights valiosos sobre o perfil do público, preferências, comportamentos e padrões de uso. Essas informações podem ser usadas para melhorar a experiência dos visitantes, criar exposições personalizadas e direcionar estratégias de marketing.
Com o crescimento da cultura digital, os museus também estão presentes em plataformas online, como sites, aplicativos e redes sociais. A ciência de dados pode ajudar a analisar dados de engajamento digital, como visualizações de página, compartilhamentos, curtidas e comentários, para avaliar o impacto das iniciativas digitais e identificar tendências de interesse. Esses insights podem orientar o desenvolvimento de conteúdo digital mais relevante e envolvente.
A análise de dados utilizando técnicas de ciência de dados, como mineração de dados e aprendizado de máquina, pode revelar padrões e tendências ocultas nos dados digitais dos museus. Isso pode ajudar a identificar relações entre diferentes artefatos, temas ou períodos históricos, permitindo uma compreensão mais profunda das coleções. Além disso, a detecção de tendências emergentes na cultura digital pode orientar a aquisição de novos itens para o acervo.
A ciência de dados pode ser aplicada na preservação e conservação de acervos digitais, ajudando a identificar potenciais problemas, como deterioração de arquivos ou riscos de segurança. Algoritmos de detecção de falhas e análise de dados podem auxiliar na monitorização contínua dos ativos digitais e na identificação de ações preventivas para preservar sua integridade.
O curso de Ciência de Dados para Museólogos será ofertado (previsão para o segundo semestre de 2025), num formato autoinstrucional por meio da plataforma de ensino aprendizagem ofertada pela UFES, a plataforma Moocqueca (https://mooc.ufes.br). Esse formato foi escolhido pela possibilidade de alcançar um número satisfatório de público, tendo uma carga horária de 60 horas.
Foi proposta da seguinte forma: Visão Geral da Museologia e da Ciência de Dados. Processo de musealização. Informação museológica. Dados. Tratamento e Transformação em Bases de Dados. Visualização e Difusão de Dados e Informação. Estudo de Usuários. Já o público-alvo se enquadra em Museólogas(os), profissionais de museus, arquivos, bibliotecas, dentre outros da área da informação, estudantes de graduação e pós-graduação em Museologia e Ciência da Informação, pesquisadores e docentes da área de Museologia e áreas afins que tenham relação com o campo da documentação, cultura digital e tecnologias da informação e comunicação.
Compreender o contexto da ciência de dados no campo da Museologia para organização, tratamento e análise dos dados produzidos no âmbito da cultura digital. E a metodologia consiste em apresentar o conteúdo aos participantes por meio de vídeos curtos de autoria dos proponentes do curso, ferramentas de software e seus tutoriais, simuladores e textos sobre assuntos das áreas relacionadas. São também apresentadas páginas Web de instituições museológicas com exemplos de situações trabalhadas no curso. O desenvolvimento da prática e aplicações dos conteúdos segue a linha metodológica de um projeto baseado em PBL (problem based learning), apresentado desde o início do curso e desenvolvido ao longo das unidades. No âmbito desse projeto, é construído um estudo de caso completo no qual o participante observa e pode explorar várias fases de processos da Ciência de Dados, desde a organização e tratamento dos dados até a sua análise e difusão.